porque está lá
because it's there
baseada em uma realidade fantástica, ‘por que está lá’ é uma biografia visual dos espaços que caminhei em um tempo em que o ir era imperativo em minha jornada. envolto pelas cosmovisões andinas, percorri parte da cordilheira dos Andes e vivenciei fenômenos meteorológicos extraordinários na costa sul brasileira. porquanto imerso em longas caminhadas solitárias, retratava as forças da natureza que me acompanhavam. a mesma matéria primordial disposta em diferentes formas.
fotografias 35mm digitalizadas e impressas sobre papel Hahnemühle Baryta, em tamanhos 90x60cm e 75x50cm.
based on a fantastic reality, ‘because it’s there’ is a visual biography of the places I walked in a time when ‘to go’ was imperative in my journey. surrounded by Andean cosmovisions, I wandered part of the Andes and experienced extraordinary meteorological phenomena in Brazilian south coastline. while immersed in long lonely walks, I portrayed the forces of nature that went along with me. the same primordial matter arranged in different forms.
35mm film photographs scanned and printed over Hahnemühle Baryta paper, 90x60cm and 75x50cm.
“Porque está lá” foi a célebre resposta de George Mallory ao ser questionado sobre os motivos que o levavam a querer subir a montanha mais alta do mundo: Chomalungma – a deusa do lugar para os tibetanos.
Essa simples e potente força é o que tem impulsionado caminhantes e montanhistas mundo afora, e levado artistas a fazerem o que é necessário para sua existência. O forte “preciso”, segundo Rilke.
Nossos maiores feitos talvez sejam carregados de justificativas mundanas. Mas, no fundo, a motivação essencial que nos levou a empreitá-los é este profundo, direto, cirúrgico “porque sim”. Por que eu quis. Porque é inevitável.
Na elaboração dessa série, Tiago se deparou com outras matérias que performam no mundo num tempo distante do nosso. A pedra que se quebra pontiaguda e percorre a jornada até o seu arredondamento, ou mesmo da água, que explode nas falésias ganhando braços e pontas, numa dança efêmera. “[…] ao passo que, efetivamente, são momentos mais extensos. não são fotografias que pensei deliberadamente em fazer, elas se apresentaram. com uma câmera, uma lente e duas pernas, vou. vou de olhar atento ao presente, presente no entorno. a presença se transforma em clique, que na sua fração de segundo se desfaz. o comprometimento físico envolvido nas caminhadas abre uma receptividade à pacha – conceito quechua para espaço-tempo, que tanto pode ser um breve momento quanto uma época – que me cerca. apesar da relação ser de mão dupla, sinto que o fluxo de influência pesa muito mais na minha direção: sou constantemente modificado pela minha exposição ao ambiente, àquilo que apelidam de natureza, o todo de que somos meras partes. nessas estradas que percorri, fui sempre acompanhado por seres ditos divinos. inteligências oriundas de outras matérias. […]” – expressa Tiago sobre suas caminhadas.
Todos estes tempos em performance trouxeram a Tiago reflexões sobre o seu próprio tempo, que é múltiplo e dá ritmo ao caminhar e fotografar; os passos, a respiração, a pausa, o tempo do obturador, até o momento de parar. Imergir na paisagem, entender-se parte do todo, é a forma que Tiago encontra de se reconhecer em seu espaço-tempo.
Os milhares de quilômetros percorridos entre uma foto e outra se condensam aqui em poucos metros, e até compartilham paredes. Os andes encontram o atlântico e a montanha boliviana encontra o mar do sul do brasil. As fronteiras latino americanas são contornos invisíveis que, nesta exposição, são diluídos para abrir espaço para outros contornos possíveis, como o da fronteira entre uma matéria e outra, entre um ser e outro ser.
Diferente de um mapa que se utiliza para ir de um ponto à outro, nestas caminhadas não há entre-lugares, todo lugar é um mundo e cada momento é inteiro.
Georgia Bergamin