porque está lá – exposição

because it's there - exhibition

exposição do trabalho ‘por que está lá’, com curadoria e texto de Georgia Bergamin, realizada na sala expositiva experimental do NEFA – Núcleo de Estudos em Fotografia e Arte, com coordenação de Lucila Horn.

 

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“Porque está lá” foi a célebre resposta de George Mallory ao ser questionado sobre os motivos que o levavam a querer subir a montanha mais alta do mundo: Chomalungma – a deusa do lugar para os tibetanos.

Essa simples e potente força é o que tem impulsionado caminhantes e montanhistas mundo afora, e levado artistas a fazerem o que é necessário para sua existência. O forte “preciso”, segundo Rilke.

Nossos maiores feitos talvez sejam carregados de justificativas mundanas. Mas, no fundo, a motivação essencial que nos levou a empreitá-los é este profundo, direto, cirúrgico “porque sim”. Por que eu quis. Porque é inevitável.

 

Na elaboração dessa série, Tiago se deparou com outras matérias que performam no mundo num tempo distante do nosso. A pedra que se quebra pontiaguda e percorre a jornada até o seu arredondamento, ou mesmo da água, que explode nas falésias ganhando braços e pontas, numa dança efêmera. “[…] ao passo que, efetivamente, são momentos mais extensos. não são fotografias que pensei deliberadamente em fazer, elas se apresentaram. com uma câmera, uma lente e duas pernas, vou. vou de olhar atento ao presente, presente no entorno. a presença se transforma em clique, que na sua fração de segundo se desfaz. o comprometimento físico envolvido nas caminhadas abre uma receptividade à pacha – conceito quechua para espaço-tempo, que tanto pode ser um breve momento quanto uma época – que me cerca. apesar da relação ser de mão dupla, sinto que o fluxo de influência pesa muito mais na minha direção: sou constantemente modificado pela minha exposição ao ambiente, àquilo que apelidam de natureza, o todo de que somos meras partes. nessas estradas que percorri, fui sempre acompanhado por seres ditos divinos. inteligências oriundas de outras matérias. […]” – expressa Tiago sobre suas caminhadas.

 

Todos estes tempos em performance trouxeram a Tiago reflexões sobre o seu próprio tempo, que é múltiplo e dá ritmo ao caminhar e fotografar; os passos, a respiração, a pausa, o tempo do obturador, até o momento de parar. Imergir na paisagem, entender-se parte do todo, é a forma que Tiago encontra de se reconhecer em seu espaço-tempo.

 

Os milhares de quilômetros percorridos entre uma foto e outra se condensam aqui em poucos metros, e até compartilham paredes. Os andes encontram o atlântico e a montanha boliviana encontra o mar do sul do brasil. As fronteiras latino americanas são contornos invisíveis que, nesta exposição, são diluídos para abrir espaço para outros contornos possíveis, como o da fronteira entre uma matéria e outra, entre um ser e outro ser.

 

Diferente de um mapa que se utiliza para ir de um ponto à outro, nestas caminhadas não há entre-lugares, todo lugar é um mundo e cada momento é inteiro.”

 

Georgia Bergamin

julho/2022

 

 

 

 

fotografias de Maria Luiza Amorim